Qual a influência dos probióticos na Síndrome do Intestino Irritável?
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) afeta milhões de pessoas no mundo, sendo caracterizada por dor, desconforto abdominal e alteração das evacuações (BHATARAI, 2017). Evidências da relação entre a microbiota e a SII foram publicadas recentemente na revista Gastroenterology (2018), mostrando que cerca de 10% dos casos agudos de enterite levam ao desenvolvimento da SII. Quer saber como? Continue lendo o post e saiba mais!
O que é?
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é definida como um distúrbio gastrointestinal crônico e de origem multifatorial (genética, fisiológica e ambiental) que atinge cerca de 11% da população mundial, conforme Canavan (2014). Além disso, é caracterizada pela ocorrência de dor abdominal, por no mínimo uma vez na semana nos últimos três meses, relacionada à alteração da frequência ou consistência das fezes (BHATARAI, 2017).
Nos Estados Unidos, cerca de 20% da população é acometida por SII, enquanto que na Ásia 7% da população convive com esse distúrbio gastrointestinal (CANAVAN, 2014). Na América do Sul, segundo a World Gastroenterology Organization (2015), os dados disponíveis são mais reduzidos. No Uruguai, por exemplo, um estudo indicou a prevalência geral de 10.9% (sendo 14.8% entre mulheres e 5.4% entre homens). Outro estudo da Venezuela indicou uma prevalência geral de 16,8% de SII, também com prevalência feminina: 81.6% contra 18.4% homens (VEITIA, 2013). No Brasil, conforme a Federação Brasileira de Gastrenterologia (2017), a estimativa de SII é de 10-20% na população adulta e predominante em mulheres.
Microbiota Intestinal
A chamada microbiota intestinal se refere à população de bactérias presentes no intestino. Já a disbiose é definida como a desregulação da microbiota que ocorre quando há um desequilíbrio entre a população de bactérias benéficas e patogênicas (MAKKI, 2018). Esse desequilíbrio pode ocorrer devido à alguma infecção intestinal, diarreia excessiva ou uso abusivo de antibióticos (TAMMA, 2017). A disbiose tem impacto sobre as doenças intestinais, influenciando o desenvolvimento da Síndrome do Intestino Irritável, diverticulite, diabetes tipo 2, obesidade, aterosclerose – segundo Strecher (2013). Em relação à SII, estima-se que cerca de 10% dos casos começam a partir de uma gastroenterite, conforme dados publicados na revista Gut Microbes (2015).
Em pacientes com SII, foi observada a prevalência de espécies de bactérias pró-inflamatórias como Enterobacteriaceae e a redução no gênero Lactobacillus e Bifidobacterium – conhecidas como benéficas ao organismo (ZHUANG, 2017). Esse fato sugere novamente a relação da disbiose da microbiota com o risco de SII. Além disso, dados de Tap (2017), mostraram que a diversidade da microbiota intestinal está relacionada com a manifestação de SII, bem como a sua severidade está diretamente proporcional ao metano exalado pelas bactérias presentes (como as do gênero Clostridium).
Probióticos
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), probiótico são “micro-organismos vivos que, quando administrados em quantidades corretas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. Além disso, eles inibem o crescimento de bactérias patogênicas, evitando sua invasão através da melhora da barreira intestinal – conforme Cremon (2018). Os probióticos auxiliam na manutenção da saúde intestinal, ao passo que contribuem com a composição da microbiota.
No caso da SII, alguns estudos evidenciam melhora dos sintomas com o emprego de probióticos. Por exemplo, a meta-análise de Yuan (2017) evidenciou que o tratamento de indivíduos com SII utilizando o probiótico Bifidobacterium infantis proporcionou redução da dor e dos inchaços abdominais, sugerindo ser uma terapêutica eficaz nestes pacientes. Em outro estudo envolvendo 50 adultos diagnosticados com SII, observou-se melhora significativa nos sintomas associados à esta doença, incluindo a redução da dor abdominal entre os pacientes que receberam probióticos (L. plantarum + B. breve ou L. plantarum + L. acidophilus) em relação aos pacientes do grupo placebo (SAGGIORO, 2004).
O´Mahony (2005) avaliou 77 pacientes que receberam probióticos (B. infantis e L. salivarius) por 8 semanas e observou que houve redução significativa no desconforto abdominal, inchaço e dificuldade nas evacuações. Resultados semelhantes foram obtidos no estudo de Kajander (2005), no qual 103 pacientes diagnosticados com SII foram divididos em dois grupos. Um dos grupos recebeu uma mistura de probióticos, enquanto o outro recebeu placebo durante 6 meses. Observou-se uma melhora significativa de 42% na redução dos sintomas de SII, como inchaço e dor abdominal após a administração dos probióticos, enquanto o grupo placebo obteve uma melhora de 6%.
Qual é o mecanismo?
Dados publicados na revista Gastroenterology (2016), defendem que os probióticos agem por mecanismos como: Modulação da motilidade gastrointestinal, regulação da ativação imunológica da mucosa, melhora da permeabilidade epitelial, aprimoramento da comunicação intestinal e restauração da disbiose.
Em pacientes com SII a função intestinal e a microbiota estão alterados, portanto os probióticos são úteis no tratamento devido sua capacidade de modificarem a permeabilidade intestinal prejudicada após cerca de 4 semanas de tratamento – conforme Zeng (2008). Além disso, conhecer o ambiente da microbiota, bem como o emprego de probióticos, são importantes para o desenvolvimento de terapias mais eficazes para Síndrome do Intestino Irritável (BARBARA, 2018).
Logo, se você vem apresentando dor abdominal, por no mínimo uma vez na semana nos últimos meses, relacionada à alteração da frequência ou consistência das fezes, procure seu médico para que ele possa lhe examinar e solicitar todos os exames necessários.
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ver Referências
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