Conheça os efeitos dos antibióticos sobre a microbiota intestinal

Estima-se que trilhões de bactérias compõem a microbiota intestinal (Makki, 2018). Esses micro-organismos, quando em equilíbrio, trazem benefícios ao indivíduo, modulando diversas funções do organismo. Porém, o uso prolongado e indiscriminado de antibióticos pode interferir na flora intestinal causando a chamada disbiose (desequilíbrio entre as bactérias boas e ruins residentes no intestino) e acarretando em consequências desagradáveis a curto e longo prazo. Continue lendo o post e saiba como!

Microbiota

A microbiota intestinal, também chamada de flora intestinal, exerce muitas funções benéficas ao organismo dos indivíduos, sendo considerada por alguns autores como um órgão adicional (O’HARA, 2006; BECATTINI, 2016). Dentre as suas diversas funções, destacam-se a produção de vitaminas do complexo B e K, manutenção do tecido intestinal íntegro contra a ação de bactérias patogênicas e estimulação do sistema imunológico. Hoje, sabe-se que a influência da microbiota não se limita apenas ao trato gastrointestinal, afetando também diversos outros órgãos, como o cérebro (LUNA, 2015).
Bactérias como Escherichia coli, Enterobacter e Clostridium, quando em situação de equilíbrio, não são prejudiciais ao nosso organismo. Porém, quando seu crescimento é aumentado em relação às bactérias benéficas (pelo uso de antibióticos, por exemplo), pode desencadear os processos diarreicos (TAMMA, 2017).

Antibióticos

Por definição, os antibióticos são medicamentos que destroem ou inibem o crescimento de certos micro-organismos patogênicos (causadores de doenças), conforme o Ministério da Saúde (2001). A descoberta dos antibióticos revolucionou a medicina ao passo que reduziu a morte por infecções como tuberculose e meningite bacteriana, que eram mortais até então. Na era pré-antibióticos, a mortalidade por pneumonia (causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae) ocorria em cerca de 40% dos casos (BARLETT, 1995). Por outro lado, o uso inadequado da antibioticoterapia pode resultar em resistência dos patógenos a estes medicamentos e na redução da microbiota intestinal, causando efeitos adversos como diarreia, náusea e vômitos (NELSON, 2017).

Efeito dos antibióticos sobre a microbiota

Estudo de Jernberg (2007) demonstrou que indivíduos tratados com antibióticos por uma semana tiveram efeitos na microbiota intestinal, como perda da diversidade bacteriana e aumento da resistência aos antibióticos por 6 meses até 2 anos após o tratamento. Isto ocorre pelo fato dos antibióticos não serem seletivos apenas às bactérias patogênicas, mas atingindo também as bactérias benéficas. Uma das bactérias patogênicas que é extremante resistente aos antibióticos é o Clostridium difficile (BUFFIE, 2012).
Conforme Becattini (2016), a maior parte dos pacientes hospitalizados devido infecção recorrente por Clostridium difficile, foi submetida ao tratamento com antibióticos previamente – o que resultou em diarreia moderada. Diversos estudos demonstram que linhagens de bactérias probióticas podem afetar de maneira positiva a microbiota intestinal desiquilibrada pela antibioticoterapia. Os probióticos podem agir contra as bactérias patogênicas de diversas formas, como competição por nutrientes e por locais de fixação no intestino, produção de substâncias antimicrobianas e estimulação do sistema imune (AGAMENNONE, 2018).

Microbiota em crianças

O uso de antibióticos na infância é fundamental para o tratamento de diversas patologias que poderiam acarretar em problemas graves, visto que o sistema imune das crianças muitas vezes encontra-se imaturo. Entretanto, como consequências do uso destes medicamentos, observa-se o desequilíbrio da microbiota intestinal, o qual pode estar associado ao desencadeamento de processos diarreicos, além de outros distúrbios (VANGAY, 2015).

Logo, é fato que os antibióticos são necessários e indispensáveis em muitos casos, visto que podem salvar vidas, porém manter a microbiota equilibrada durante o seu uso é importante para que se mantenham saudáveis as funções intestinais, metabólicas e imunológicas do organismo (CAI, 2018). Este reequilíbrio da microbiota pode ser alcançado através de uma alimentação rica em fibras, bem como através do uso de probióticos. Logo, sempre consulte um médico antes de iniciar qualquer tratamento, evite a automedicação e não utilize antibióticos que “sobraram” de outro tratamento. Faça o uso racional dos medicamentos, utilizando o antibiótico até o final, conforme a prescrição médica, a fim de garantir a efetividade e segurança do tratamento e pergunte ao seu médico dicas de como manter a microbiota saudável durante o uso do medicamento!

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ver Referências

AGAMENNONE, V. et al. A practical guide for probiotics applied to the case of antibiotic-associated diarrhea in the Netherlands. BMC Gastroenterology, v. 18, n. 1, 2018.
BARTLETT J.G. et al. Community-acquired pneumonia N Engl J Med, v.333, p. 1618-1624.1995.
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BRESTOFF J.R, ARTIS D. Commensal bacteria at the interface of host metabolism and the immune system. Nat Immunol, v.14, n.7, p.676-84. 2013.
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CAI, J. et al. Comparative efficacy and tolerability of probiotics for antibiotic-associated diarrhea: Systematic review with network meta-analysis. United European Gastroenterology Journal, v. 6, n. 2, p. 169-180, 2018.
CHAI G, Trends of outpatient prescription drug utilization in US children, 2002-2010. Pediatrics.v.130, n.1, p.23-31. 2012.
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