Cirurgia bariátrica e o efeito sobre o perfil nutricional materno
A obesidade atinge milhões de pessoas no mundo, sendo ainda crescente no Brasil. Além da hereditariedade, os fatores de risco para o desenvolvimento de obesidade incluem a vida sedentária, alimentação pobre em nutrientes e rica em gorduras e açúcar (GIMENES, 2017). Em alguns casos, a cirurgia bariátrica é uma opção eficaz para o tratamento da obesidade e manutenção do peso. Porém, você sabia que esse procedimento pode alterar o perfil nutricional dos indivíduos e até mesmo interferir no período gestacional da mãe? Continue lendo e saiba mais!
Cirurgia bariátrica: o que é?
A cirurgia bariátrica e metabólica, também conhecida como cirurgia da obesidade, ou, popularmente, redução de estômago, reúne técnicas com respaldo científico, destinadas ao tratamento da obesidade mórbida e ou obesidade grave e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ele (SBCBM, 2017). Através deste procedimento obtém-se melhorias em várias condições de saúde, como redução do excesso de peso, da diabetes tipo 2, hiperlipidemia e hipertensão (SLATER, 2017).
A busca por esse procedimento aumentou consideravelmente nos últimos anos no Brasil, alcançando cerca de 105 mil procedimentos em 2017, um aumento de 46,7% entre 2012 a 2017. Estes números colocam o país em segundo lugar no mundo em número de cirurgias bariátricas (SBCBM, 2018).
Além disso, observa-se uma tendência de aumento da cirurgia bariátrica em mulheres em idade fértil e, consequentemente, aumento do número de gestações após esta cirurgia – conforme dados publicados na revista Obesity Surgery (2011). Durante o período pré- e peri gestacional, a necessidade de aporte dos nutrientes é maior para suprir as necessidades da mãe e do bebê (BERTI, 2010), uma vez que, após a cirurgia bariátrica, a superfície de absorção intestinal pode ficar reduzida, interferindo no status nutricional da mãe e do feto.
Relação com o status nutricional materno
O peso ao nascer reflete tanto nas condições nutricionais do recém-nascido, quanto da gestante, sendo considerado um indicador de saúde individual, que influencia no crescimento da criança e na saúde na vida adulta. Os primeiros 12 meses após a cirurgia bariátrica são caracterizados por estado catabólico, com rápida perda de peso e estabilização gradual do estado nutricional do organismo. Por isso, é aconselhado que as mulheres evitem a gravidez no mínimo 12-24 meses após o procedimento, conforme Alatische (2013).
As deficiências de micronutrientes comumente relatadas nas gestantes (pós- bariátrica) são de vitamina A, E, D, ferro, folato e cálcio (JANS, 2015). Dados de Rottenstreich (2018) indicaram alteração no perfil nutricional dessas gestantes, assim como deficiência de algumas vitaminas durante a gravidez, como vitamina B12, ferro (resultando em anemia), vitamina A (cegueira noturna) e D. Os autores sugerem que é de suma importância a suplementação vitamínica por parte desses pacientes, mas com ressalva às gestantes, que devem atentar ao consumo excessivo da vitamina A, devido aos possíveis efeitos teratogênicos ao feto.
Em outro estudo, Hazart (2017) acompanhou 59 mulheres que engravidaram após cirurgia bariátrica durante os 3 trimestres de gestação. A pesquisa mostrou deficiências de algumas vitaminas durante o terceiro trimestre, como por exemplo, vitamina A (40%), vitamina D (8.3%), vitamina C (83.3%), vitamina B1 (20.0%), vitamina B9 (9.1%) e selênio (50.0%). Com base nos resultados, os autores ressaltaram a importância do monitoramento de gestantes após a cirurgia bariátrica e da adesão aos planos de suplementação nutricional à longo prazo para evitar deficiências nutricionais da mãe e consequências ao recém-nascido – como o reduzido peso ao nascer.
Status nutricional do bebê
Estudo publicado na revista Obesity Surgery (2017) observou que 23% das crianças nascidas de mulheres após a cirurgia bariátrica apresentavam baixo peso ao nascer, indo ao encontro do que a literatura descreve para estes casos. Além disso, o estudo indicou que as crianças apresentavam deficiência de micronutrientes como ferro (46,1%) e vitamina A (30,7%). Das 13 crianças acompanhadas ao longo do estudo, 30,8% tornaram-se obesas, 15,5% apresentavam excesso de peso, 7,7% com risco de excesso de peso e 46,1% estavam nos padrões normais de peso. Os autores defendem que a amamentação pode exercer um efeito protetivo contra o sobrepeso nestas crianças.
Portanto, quando a ingestão ideal de vitaminas não é obtida através da dieta ou quando ocorre má absorção por parte do organismo, a suplementação com polivitamínicos pode ser uma alternativa saudável. Converse com seu médico sobre a melhor opção para o seu caso e garanta os nutrientes essenciais para sua saúde!
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ver Referências
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BUCHWALD H et al. Metabolic/bariatric surgery worldwide, Obes Surg, v.23, n.4, p.427–36. 2013.
DELL’AGNOLO C.M et al. Pregnancy after bariatric surgery: implications of mother and newborn. Obes Surg. v.21, n.6, p.699–706, 2011.
GIMENES J. C. et al. Nutritional Status of Children from Women with Previously Bariatric Surgery. Obesity Surgery, v.28, n.4, p. 990–995. 2017.
HAZART J. et al. Maternal Nutritional Deficiencies and Small-for-Gestational-Age Neonates at Birth of Women Who Have Undergone Bariatric Surgery. J Pregnancy. 2017.
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ROTTENSTREICH A. et al. Maternal nutritional status and related pregnancy outcomes following bariatric surgery: A systematic review. Surgery for Obesity and Related Diseases, 2018.
SBCBM. A cirurgia bariátrica, 2017.
SBCBM. Número de cirurgias bariátricas no Brasil aumenta 46,7%.
SLATER C. Nutrition in Pregnancy Following Bariatric Surgery. Nutrients. v.9, n.12, p. 1338. 2017.