A obesidade na infância pode elevar o risco de doenças cardiovasculares na vida adulta

O crescente aumento dos casos de sobrepeso e obesidade infantil nas últimas décadas causam alerta, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento. A obesidade na infância pode resultar no surgimento de doenças associadas como diabetes, doenças cardiovasculares, apneia do sono e refluxo gastroesofágico, conforme Lee (2018). Mas como o aumento de peso está relacionado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares na infância, adolescência e vida adulta? Continue lendo e saiba mais!

Doenças cardiovasculares e a obesidade na infância

Segundo Lee (2018), a obesidade durante a infância aumenta o risco de doenças cardiovasculares na vida adulta. Níveis baixos de colesterol “bom” (HDL), pressão arterial alta, bem como altos níveis de triglicerídeos, aumentam conforme o grau de severidade da obesidade (SKINNER, 2015). De acordo com dados publicados na revista International Journal of Obesity (2011), o risco de desenvolvimento de hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e cardiopatia isquêmica é de 1,5 a 5 vezes maior em crianças obesas do que nas saudáveis.
Na revisão sistemática de Reilly (2011), onze trabalhos evidenciaram a relação direta da obesidade na infância com a predisposição de morbidades cardiometabólicas na vida adulta (diabetes, hipertensão, AVC).  Além disso, o autor defende que a obesidade infantil e adolescente resulta em consequências para a saúde física e mental das crianças e destes futuros adultos. O autor demonstrou também que a obesidade nas crianças elevou em 1,4 a 3 vezes a taxa de mortalidade prematura em adultos, em comparação às não obesas.

Taxas de mortalidade na vida adulta

No estudo de Twing (2016), foram acompanhados 2.298.130 jovens israelenses do sexo masculino entre 16 e 19 anos de idade, por 30 anos (1981-2011). Os pesquisadores evidenciaram que quanto maior o IMC na infância, maior foi o risco de morte por doença cardiovascular na vida adulta. O estudo também evidenciou que as taxas de mortalidade na vida adulta foram menores nos adolescentes que apresentavam IMC entre 25 a 49. Já os jovens com IMC entre 50 a 74 tiveram aumento de mortalidade por problemas cardiovasculares (morte por doença coronariana, acidente vascular cerebral e causas cardiovasculares gerais) e, a partir do IMC 75, os participantes tiveram um risco aumentado de morte súbita. Com isso, os autores sugerem que a obesidade na infância eleva em 3,5 vezes o risco de mortalidade cardiovascular na vida adulta, em comparação com crianças saudáveis.

Predisposição das crianças ao ambiente “obesogênico”

Hoje, as crianças parecem estar mais expostas à ambientes ditos “obesogênicos”, ou seja, propícios ao desenvolvimento de obesidade, pois estão geralmente cercadas por alimentos industrializados e com alto valor calórico (ricos em açúcar e com baixa quantidade de nutrientes e fibras) (LEE, 2018). Além disso, a redução da prática de atividades físicas, como andar de bicicleta ou brincar ao ar livre, assim como o tempo prolongado que as crianças passam assistindo televisão e utilizando smartphones, contribui para o sedentarismo (YEN, 2010).
Segundo um estudo publicado na JAMA Pediatrics (2018), envolvendo 1850 gêmeos, os genes ligados à obesidade infantil estão intimamente relacionados com o ambiente no qual estas crianças vivem. Ou seja, lares obesogênicos podem modular a hereditariedade do IMC das crianças, aumentando assim as chances destas tornarem-se obesas.

Outras complicações da obesidade infantil

No mesmo estudo, Lee (2018) observou que além das complicações cardiovasculares, a obesidade na infância pode resultar em distúrbios e efeitos em diversos sistemas do organismo, tais como:
Psicossociais:  Ansiedade, depressão, desordens alimentares, isolamento social, baixo rendimento escolar;
Neurológicos: Hipertensão intracraniana idiopática;
Endócrinos: Resistência à insulina, diabetes tipo 2, puberdade precoce, síndrome dos ovários policísticos em meninas e baixa produção de testosterona em meninos;
Gastrointestinais: Refluxo gastroesofágico, pedra na vesícula, constipação;
Renais: Glomeruloesclerose;
Pulmonares: Apneia obstrutiva do sono, asma e intolerância ao exercício;
Demais riscos à longo prazo:  Aterosclerose da artéria carótida, carcinoma colorretal, doença cardíaca isquêmica, acidente vascular cerebral e morte prematura.

Prevenção e manejo da obesidade

Conforme dados publicados na revista Frontiers of Medicine (2018), algumas das abordagens de prevenção e redução da obesidade infantil incluem:

  • evitar o consumo de alimentos com alto valor calórico e poucos nutrientes;
  • incentivar o consumo de frutas inteiras ao invés de sucos de frutas;
  • tomar café da manhã e evitar pular refeições;
  • prática regular de exercícios físicos por, no mínimo, 20 minutos, 5 dias por semana;
  • equilibrar o tempo de uso de tecnologias como smartphones (redes sociais);
  • estabelecer metas de recompensa para metas alcançadas;
  • conservar um padrão de sono saudável;
  • envolver a escola e a comunidade no engajamento dos jovens.

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ver Referências

LEE E. Y. e YOON K.H. Epidemic obesity in children and adolescents: risk factors and prevention. Frontiers of Medicine. doi:10.1007/s11684-018-0640-1, p. 1-9.2018.
REILLY J.J, KELLY J. Long-term impact of overweight and obesity in childhood and adolescence on morbidity and premature mortality in adulthood: systematic review. Int J Obes, v.35, n.7, p.891–898, 2011.
SCHREMPFT, S. et al. Variation in heritability of child body mass index by obesogenic home environment. JAMA Pediatrics, Out. 2018. DOI: 10.1001/jamapediatrics.2018.1508
TWING G. et al. Body-mass index in 2.3 million adolescents and cardiovascular death in adulthood. N Engl J Med, v.374, n.25, p. 2430–2440, 2016.
YEN C.F et al. The relationships between body mass index and television viewing, internet use and cellular phone use: the moderating effects of sociodemographic characteristics and exercise. Int J Eat Disord, v.43, n.6, p. 565–571, 2010.