A microbiota intestinal pode influenciar na eficácia da vacina contra o rotavírus
A microbiota intestinal é de grande importância para o equilíbrio do organismo, ao passo que contribui para a absorção de nutrientes e até mesmo na regulação do sistema imunológico (RUIZ, 2017). Mas você sabia que a composição da microbiota pode ainda influenciar na resposta do organismo à vacinas como a contra o rotavírus – o grande causador de diarreias? Saiba mais neste post!
Rotavírus
Rotavírus é o principal causador de diarreia em crianças no mundo, conforme dados de Magwira (2018). Segundo o autor, a infecção é, na maioria das vezes, moderada, podendo ser severa e levar a hospitalizações e até mesmo à morte. Estima-se que anualmente, no mundo, ocorram cerca de 450 mil mortes associadas à diarreia em crianças menores de 5 anos, sendo que 90% dos casos se concentram na África subsaariana e Ásia (TATE, 2016).
Sintomas, transmissão e como prevenir
Os sintomas da infecção por rotavírus incluem diarreia, vômitos e febre, podendo levar à desidratação e problemas respiratórios (FIOCRUZ). A transmissão da doença se dá por via oral-fecal, quando as fezes de um indivíduo doente contaminam alimentos, água ou fômites (objetos como talheres, por exemplo) – Crawford (2017). Conforme o autor, a prevenção envolve sempre lavar bem as mãos e os alimentos antes de ingerí-los. Além disso, a vacinação contra o rotavírus é a alternativa mais eficaz de prevenção da doença.
Vacinação
Dados publicados na revista Cell Host & Microbe (2018) mostram que na última década o rotavírus tem sido erradicado em muitos países através da introdução de vacinas orais. Embora cerca de 80% dos países já tenham aderido à vacinação contra o rotavírus, em países em desenvolvimento (como África subsaariana), o potencial protetivo é de apenas 50%, enquanto em países desenvolvidos chega a 95% (MADHI, 2010). Dentre as explicações para esse fenômeno estão a transferência de anticorpos maternos, co-infecções virais, má nutrição e saneamento, assim como a composição da microbiota – recentemente sugerida como potencial contribuinte (PARKER, 2018).
Qual a relação com a microbiota?
Já é sabido que a composição da microbiota varia de acordo com a idade, sendo importante para o desenvolvimento do sistema imunológico (RUIZ 2017) e influenciando na capacidade dos vírus intestinais se replicarem (UCHIYAMA, 2014). Estudos observacionais sugerem a associação entre a microbiota intestinal com a resposta à vacinas contra o rotavírus. Por exemplo, a pesquisa de Harris (2017) envolvendo 78 crianças no país de Gana (África) mostrou que a resposta imune após dois dias da vacinação com o rotavírus foi relacionada com a abundância de bactérias do filo Bacilli e relativa abundância do filo bacteroides. Em outro estudo publicado na revista Journal of Infectious Diseases (2017), envolvendo crianças do Paquistão, observou-se a abundância de bactérias gram negativas (como Escherichia coli) na microbiota de crianças responsivas à vacina, em comparação ao grupo controle. Conforme Magwira (2018), a abundância de bactérias produtoras de flagelina (maioria das Gram negativas), pode suplementar a resposta imune inata e adaptativa da vacina contra o rotavírus. Outra hipótese é que a microbiota intestinal pode facilitar a replicação dos vírus atenuados da vacina, favorecendo o aumento de sua eficácia (MAGWIRA, 2018). Logo, manter em equilíbrio a presença de bactérias patogênicas e benéficas pode ter como vantagem a estimulação do sistema imunológico e aumento da eficácia das vacinas.
Probióticos
Para Parker (2018), embora ainda seja pouco elucidado como a microbiota interfere na resposta à vacinas, o uso de probióticos e prebióticos pode ser útil para melhorar a resposta à vacina contra o rotavírus e combater a diarreia infantil. Mas lembre-se de sempre consultar um médico antes de utilizar qualquer produto ou iniciar algum tipo de suplementação, desta forma garantindo a saúde da sua família!
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ver Referências
CRAWFORD S.E. et al. Rotavirus infection. <strong>Nat Rev Dis Primers</strong>. v. 9, n.3, p.170-83, 2017.
HANSEN CH. et al. Patterns of early gut colonization shape future immune responses of the host. <strong>PLoSONE, </strong>2012.
HARRIS V. et al. Rotavirus vaccine response correlates with the infant gut microbiota composition in Pakistan, <strong>Gut Microbes</strong> v.19. 2017.
HARRIS V. et al. Significant correlation between the infant gut microbiome and rotavirus vaccine response in rural Ghana. <strong>J. Infect. Dis.</strong> v.215, p. 34–41, 2017.
MADHI S.A. et al. Effect of human rotavirus vaccine on severe diarrhea in African infants. <strong>N. Engl. J. Med.</strong> v.362, p. 289–298, 2010.
MAGWIRA, C. A. et al. Composition of gut microbiota and its influence on the immunogenicity of oral rotavirus vaccines. <strong>Vaccine</strong> v. 36, n.24, p.3427–3433. 2018.
PARKER E. P. K et al. Enhancing Rotavirus Vaccination: A Microbial Fix? <strong>Cell Host & Microbe</strong>, v.24, n.2, p. 195–196, 2018.
RUIZ, V.E., et al. A single early-in-life mac- € rolide course has lasting effects on murine microbial network topology and immunity. <strong>Nat. Commun.</strong> v.8, n.518. 2017.
TATE J.E, al. Global, regional, and national estimates of rotavirus mortality in children <5 years of age, 2000–2013. <strong>Clin Infect Dis</strong>, v.62, n.2, p.S96–S105. 2016.
UCHIYAMA, R., et al. Antibiotic treatment suppresses rotavirus infection and enhances specific humoral immunity. <strong>J. Infect. Dis</strong>. v.210, p. 171–182, 2014.
ZHANG B. et al. Prevention and cure of rotavirus infection via TLR5/NLRC4-mediated production of IL-22 and IL-18. <strong>Science</strong> v.346, p.861–5. 2014.
<a href=”https://www.bio.fiocruz.br/index.php/rotavirus-sintomas-transmissao-e-prevencao” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>FIOCRUZ, BIOMANGUINHOS.</a> Acesso em 12.12.18.